Devoteísmo é um assunto
complexo e controverso, mas o debate é necessário. É um tema pouco discutido e
pesquisado, talvez por tratar-se de um assunto em que a discussão pode cair em
uma areia movediça, pois é um tema cheio de incertezas. Basicamente, devotee é
aquele que sente atração por pessoa com deficiência, principalmente a que tem
algum membro amputado ou é cadeirante. Leia abaixo sobre o tema no artigo
publicado pela Associação de Pessoas com Deficiência de Uberlândia (Adef).
(Gabriela Garcia)
Devotees: Doença ou fetiche?
por Miriam Temperani
Talvez
você nunca tenha ouvido falar do termo e nem saiba o que significa
“devoteísmo”, mas com certeza se possui algum tipo de deficiência e curte
bate-papo pela internet já deve ter cruzado com um devotee, que são homens e
mulheres, heterossexuais, bissexuais ou homossexuais que têm atração física e
sexual por pessoas com deficiência. Vamos explicar melhor: eles têm atração
pela deficiência que a pessoa possui e não pelo que ela é, tendo até
preferências específicas sobre o tipo de deficiência, como, por exemplo,
amputação a 5 cm do cotovelo ou joelho, vítimas de poliomielite, paraplégicos,
tetraplégicos, etc.
A
prática se espalhou com o advento de os inúmeros acessos à internet, porém, em
pesquisa sobre o tema, a jornalista Li Crespo, que possui sequelas de
poliomielite, apurou que a literatura médica relata casos de devotees desde
meados de 1800, mas sem detalhes sobre a prática. Foi Lia que levantou a
questão no Brasil em 1990, quando realizou uma pesquisa para saber quem eram
essas pessoas que se sentem atraídas pela deficiência e quais os prejuízos que
causam.
Para
alguns, o devoteísmo é apenas um fetiche, como quem tem atração por pés, por
exemplo. Mas, para outros, a aproximação de alguém pela deficiência é uma
espécie de doença ou desvio de personalidade. Para Lia, o impacto que causa na
vida dessas pessoas com deficiência, que são vítimas dos devotess, é imenso,
uma vez que fotos são tiradas sem permissão e divulgada na rede. “Não ouvi
casos de violência física, mas a violência moral sofrida é, sem dúvida, muito
ruim. O trauma é grande e pode causar depressão”, afirma a pesquisadora. Há vários
sites que vendem CDs com essas imagens, nem sempre pornográficas. Às vezes só
as imagens das pessoas com deficiência excitam o devotee. Foi o caso de Cláudia
Maximino, que possui síndrome de Talidomida, e teve fotos suas, mostrando a sua
deficiência, divulgadas em um site. “Na época, fui atrás dos órgãos competentes
e consegui que as imagens fossem tiradas da internet. Para mim são águas
passadas, mas fiquei muito triste por saber que fui enganada e que alguém só
gostava do meu corpo e não do que eu era. Hoje já superei e quando me relaciono
com alguém, tento descobrir se a pessoa tem essa preferência”, relata Cláudia.
Mas
não é só na rede internacional de computadores que os devotees procuram o
contato, muitos são mais ousados e frequentam reuniões, centros de reabilitação
e institutos. São tratados por Lia como o tipo predador que vai à
"caça". A pessoa com deficiência, por falta de informação sobre a
existência desse tipo de comportamento, acaba facilmente "cedendo" ao
assédio e só depois descobre que foi vítima de um devotee. Por isso, Lia lutou
durante muito tempo contra o tabu de falar sobre o assunto nos lugares que as
pessoas com deficiência frequentam, como institutos e centros de reabilitação,
e teve dificuldade em divulgar o assunto. "Todos acham um absurdo e
preferem o siêncio. O problema não está em se envolver ou não com um devotee e
sim saber quem ele é e o que quer para não sofrer uma grande decepção. Só a
divulgação e a informação é que podem proteger", salienta Lia.
Fonte:
Revista Sentidos
Retirado: Adef- Associação de Pessoas com deficiência
de Uberlândia
Uberlândia,
Minas Gerais, Brasil.
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