sábado, 4 de outubro de 2014

Quem muito fala e pouco faz

Descrição para cegos: urna eletrônica e
parte da mão de uma pessoa com o dedo
indicador na tecla "Confirma".

Demokratía. A palavra grega composta pelos radicais demos (“povo”) e kratos (“poder”) traduz o verdadeiro sentido da democracia. Neste domingo (5), brasileiras e brasileiros estarão indo às urnas para exercer o mais importante ato de cidadania. Vale relembrar que, ao escolher um candidato, o cidadão reconhece suas propostas e as reafirma, confiando àquela autoridade o dever de formular as políticas públicas do Estado e o representar no meio político.
No entanto, há quem tente ludibriar o eleitor com promessas mirabolantes e falsas verdades. Em época de eleição, é comum que alguns políticos se aproximem de movimentos sociais e demonstrem uma aparente empatia pela causa, como, por exemplo, a luta pelos direitos das pessoas com deficiência.
Nesses casos, é preciso redobrar a atenção. Nem sempre os interesses do candidato em se unir à luta estão relacionados ao reconhecimento das reais necessidades do movimento, como a melhoria da acessibilidade e inclusão. Por vezes, essa aproximação é utilizada apenas como meio para chegar ao poder e, após isso, todo compromisso é descartado – e muitas vezes esquecido por ambas as partes.  
Primeiramente, é essencial que o eleitor saiba diferenciar as formas de atuação no executivo e no legislativo, para que assim possa reconhecer o papel do candidato e sua atuação no cenário político. Há quem consiga iludir o eleitor com promessas que jamais poderão ser cumpridas por ele – não se pode realizar tudo indiscriminadamente.
Quem luta pela causa das pessoas com deficiência sabe que a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, em seu artigo 29, assegura “que as pessoas com deficiência possam participar efetiva e plenamente na vida política e pública, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, diretamente ou por meio de representantes livremente escolhidos, incluindo o direito e a oportunidade de votarem e serem votadas”.
Para isso, a justiça eleitoral, os partidos políticos, os candidatos e os meios de comunicação têm a obrigação de apresentar medidas de acessibilidade, seja comunicacional, atitudinal ou estrutural, para incluir as pessoas com deficiência.
Por exemplo: o local de votação deve ter rampas de acesso; as propagandas eleitorais gratuitas veiculadas nos meios de comunicação devem ter legendas, intérpretes de libras e audiodescrição; e, não menos importante: o candidato deve saber se referir às pessoas com deficiência – não as chamar de “portadoras de necessidades especiais”, nem dizer que irá lutar pelos “direitos dos deficientes físicos”. Fica claro que esse candidato não conhece ao menos o histórico de lutas e os direitos individuais desse grupo.
Outro ponto essencial a ser observado são as propostas. O que o candidato tem a propor para garantir a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade? De que forma vai lutar pela garantia à integridade física e combater os abusos, sejam de violência ou morais? É obrigação do eleitor analisar o plano de governo e o planejamento orçamentário para repasse de verbas para a acessibilidade, saúde, educação, segurança pública, entre outros.
Um último aspecto relevante, mas pouco lembrado, está relacionado aos financiadores das campanhas dos partidos políticos. Algumas empresas apoiam candidatos que têm como objetivo lutar por melhores condições para as pessoas com deficiência, mas, contraditoriamente, não cumprem com a Lei de Cotas ou com as medidas de acessibilidade.
Tanto o movimento de luta das pessoas com deficiência quanto outros grupos minoritários devem ser cautelosos antes de atribuir um voto de confiança a um representante público – e com razão. Se existem direitos, eles devem ser exercidos e respeitados. Direito não é troca de favores, mas sim obrigação. O eleitor tem a liberdade de escolher e eleger candidatos que verdadeiramente o represente e estejam dispostos a se unir à luta e abraçar a causa. (Fernanda Mendonça)

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