Muitas
pessoas costumam insinuar que um deficiente, seja de qualquer tipo, não
consegue fazer certas coisas, como, por exemplo, gerar um filho ou até mesmo
ser um professor. A partir disso, a psicóloga e fundadora da Ong Projeto Próximo Passo, que apóia atletas com
deficiência, Mara Gabrilli, tetraplégica há 21 anos, escreveu um artigo para o
blog Vida Mais Livre ilustrando como a deficiência é
cercada de mitos. Confira a seguir. (Gabriela Garcia)
Mitos sobre as deficiências: você conhece todos?
Certa
vez, em um dos almoços de reunião realizados quando ainda era Secretária da
Pessoa com Deficiência, fui informada de que me seria servida na ocasião uma
generosa “papinha”. Pensaram: se ela não se mexe sozinha, não mastiga também.
Depois da explicação óbvia, o episódio se tornou algo engraçado e hoje serve
para ilustrar como a deficiência é cercada de mitos. Alguns, como esse que
contei, são bem simples de reverter: foi só mastigar um bife. Mas muitos outros
precisam ser desmistificados para todo mundo.
Cadeirantes não têm sensibilidade
Sim,
todos nós temos. O que muda é a forma como as sensações se manifestam – elas
variam muito de pessoa para pessoa. Eu, por exemplo, tenho muita sensibilidade
do peito para cima. Um lençol colocado por cima do meu peito me faz sentir sua
presença em excesso. Assim como o vento, que depois da lesão medular passou a
ter outro efeito no meu corpo. Essa mudança também vale para as temperaturas,
como quente e frio. Elas continuam ali, mas diferentes.
Pessoas com deficiência não fazem
sexo ou não sentem prazer
Essa
história de que tudo desligou e nunca mais se sente prazer é pura balela. Uma
pessoa com deficiência pode sentir muito prazer e também proporcionar o mesmo.
A primeira vez que fiz sexo depois de perder movimentos foi enquanto ainda
estava na UTI, e foi um grande alívio saber que eu ainda ficava lubrificada com
o toque do meu namorado. O mesmo vale para os homens com deficiência, que
também continuam a vida sexual depois da lesão medular e podem ter ereção, sim.
E, tanto o homem, quanto a mulher com deficiência podem fazer e gerar filhos.
Conheço vários homens e mulheres com deficiência que são pais e mães incríveis.
Todo surdo é mudo
A
verdade é que não existem mudos, mas pessoas com deficiência auditiva que se comunicam
pela Língua Brasileira de Sinais (Libras) e outras que utilizam a Língua
Portuguesa. O fato de uma pessoa não ouvir não significa que ela não possa
falar, são apenas formas diferentes de se comunicar.
Pessoas com paralisia cerebral
não têm capacidade de raciocinar
A
paralisia cerebral pode afetar o intelecto de certas pessoas, mas isso não
ocorre em todos os casos. Embora apresente algumas dificuldades de coordenação
e fala, muitas pessoas com paralisia cerebral são capazes de aprender como qualquer
outra. Basta contar com o ferramental necessário para que se desenvolva, cada
uma ao seu tempo. O mesmo vale para as pessoas com deficiência intelectual.
A cegueira é a pior deficiência a
se encarar
Conheço
diversos cegos capazes, autônomos e felizes. Ser cego não é sinônimo de
tristeza. O fato de não enxergar desperta na pessoa com deficiência visual
outros sentidos que a fazem ver muito além, acredite.
Pessoas com deficiência são
infelizes e deprimidas
A
deficiência não é um estado de espírito. O que interfere no humor de uma pessoa
com deficiência é ser barrada de fazer algo por falta de acesso, mas isso não
nos torna infelizes. Pelo contrário: nos faz querer derrubar barreiras todos os
dias para buscar a felicidade. Está cheio de gente “normal” por aí buscando um
sentido para viver.
Agora
que você sabe de tudo isso, que tal colocar as informações em prática e
conviver de forma leve e verdadeira com a diversidade humana? Sempre lembre que
perguntar não ofende ninguém. Bora derrubar outros mitos?
Retirado do blog
Vida Mais Livre
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