Promovendo
a Acessibilidade às pessoas com deficiência através das Tecnologias Assistivas foi
o tema de uma das palestras ocorridas na manhã de ontem (26) na Feira de
Inovação e Tecnologia Expotec. Foi ministrada pela professora Ana Flávia
Coutinho, da UFPB.
A palestrante citou dados do Censo 2010,
de que há mais de 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, o que representa
24% da população. Isso significa que “temos um universo de pessoas com
deficiência em nossa sociedade e que ela precisa ser inclusiva. A gente precisa
pensar iniciativas que envolvam todas as pessoas”, segundo professora Ana
Flávia.
A adequação dos espaços públicos e
privados para acolher as pessoas com deficiência é uma dessas iniciativas,
afirma a professora. “A pessoa com deficiência não é deficiente, quem é
deficiente é o ambiente! O ambiente é que tem que se mudar para que todas as
pessoas sejam incluídas”, afirmou.
MODELO
SOCIAL
Segundo a professora Ana Flávia, a visão
e a compreensão que a sociedade tinha acerca das pessoas com deficiência foi se
modificando no decorrer do tempo, tendo passado por quatro fases distintas: Exclusão,
Segregação, Integração e Inclusão.
Na perspectiva da Exclusão, que perdurou
até a década de 1960, “se nascia alguém com alguma deficiência, as pessoas
achavam que aquilo era um mau agouro, uma maldição, uma coisa dos deuses... E
em algumas culturas se chegava até a matar pessoas que nasciam com alguma
deficiência”, afirmou.
O segundo modelo que marcou a relação entre
a sociedade e as pessoas com deficiência, ainda de acordo com a palestrante,
foi o da Segregação: as pessoas com deficiência eram apartadas do convívio
social e mantidas em escolas especiais, para a sua “inclusão”.
No modelo da Integração, as pessoas com
deficiência “estariam na escola, mas em uma sala especial, separada... Era uma
tentativa de se chegar à inclusão”, afirmou.
“A inclusão real, que a gente quer hoje em
dia, é que toda pessoa esteja matriculada na escola e numa sala normal, numa
sala em que qualquer criança está. Essa é a proposta da inclusão: todas as
pessoas convivem, interagem”, completou a palestrante.
EVOLUÇÃO
DA TERMINOLOGIA
A professora prosseguiu afirmando que “o
primeiro passo para que a inclusão aconteça é a mudança atitudinal. A gente
precisa mudar nossa forma de ver! Muitas vezes a gente usa do preconceito,
porque desconhece”.
O uso inadequado de uma determinada
terminologia pode reforçar os preconceitos: “a evolução que houve até se chegar
à inclusão, houve também na terminologia. Antes se falava ‘deficiente’,
‘portador de deficiência’, ‘portador de necessidades especiais’... Atualmente a
terminologia que se usa é ‘pessoa com deficiência’. Antes de tudo, o
‘deficiente’ é uma pessoa!”, esclareceu a professora.
ACESSIBILIDADE
NA INFORMÁTICA
Hoje em dia, segundo Ana Flávia
Coutinho, a “internet oferece um mundo de oportunidades! Um mundo de estudo, de
trabalho, de diversão, comunicação! As possibilidades são muito amplas!. E para
que a internet seja também um espaço inclusivo, é necessário pensar
alternativas para que as pessoas com deficiência possam usufruir das possibilidades
da Rede.”
Para isso é que existem as Tecnologias
Assistivas, que “são equipamentos, a nível de hardware, ou programas, a nível
de software, que vão permitir quebrar barreiras, tornando o computador mais
acessível”, afirmou a palestrante.
Em entrevista ao blog, a professora Ana
Flávia afirmou que alguns desses recursos tecnológicos custam caro, “porque é
uma tecnologia que necessita de investimento e é produzida em pequena escala.
Mas nós temos, sim, na internet, muitos recursos gratuitos. Com o grande
crescimento da tecnologia, as pessoas estão colocando à disposição os programas
que desenvolvem. Basta procurar com atenção que a gente pode encontrar na
internet diversas possibilidades. Muitos professores têm feito pesquisas nessa
área para que a tecnologia se aproxime das pessoas”, afirmou.
A professora afirma que é preciso
“despertar nos jovens a consciência de que eles precisam desenvolver e trabalhar
artefatos da tecnologia que tenham acessibilidade, que sejam pensados para
todos. Não é porque uma pessoa não tem a visão, a audição, ou tem algum
comprometimento motor que ela não possa utilizar o computador: ela pode!”
Segundo a professora Ana Flávia
Coutinho, “o importante é a gente quebrar as barreiras atitudinais, a questão do
preconceito. É através de palestras como essa que os jovens vão tendo contato
com uma realidade que deveria ser natural e mudando assim a cultura, nossa
forma de ver o mundo, de ver as pessoas, de ver que cada um é diferente! E a
tecnologia pode promover essa acessibilidade, essa inclusão!”
RELEVÂNCIA
DAS DISCUSSÕES
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Descrição para cegos: foto mostra, à esquerda, Everton Machado e, à direita, Lenilson Vitório da Silva, segurando sua bengala. Eles estão no salão principal da Expotec, com alguns estandes ao fundo. |
Lenilson Vitório da Silva é deficiente
visual e estuda no IFPE (Instituto Federal de Pernambuco), em Igarassu. Ele
participou das discussões e classificou a palestra como “enriquecedora”. Para
ele, a conferência mostrou “para o público em geral, que não tem ainda
conhecimento, o que já existe na acessibilidade, e talvez despertar o interesse
nas pessoas em buscar [mais sobre o tema]”.
Lenilson estava acompanhado de Everton
Machado, seu apoiador. Ele afirmou que “a maior parte do que foi abordado [na
palestra] eu já tinha vivenciado com Lenilson, inclusive a dificuldade no
primeiro acesso [ao computador] no IFPE. Tem muitas pessoas que não têm o
conhecimento necessário [sobre tecnologias assitivas]. Com esse tipo de
palestra, as pessoas podem adquirir esse conhecimento”.
Excelente registro, Samuel!
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