sábado, 27 de agosto de 2016

As tecnologias assistivas a serviço da inclusão

Descrição para cegos: a foto mostra a palestrante Ana Flávia Coutinho, em pé, gesticulando enquanto fala para a platéia sentada à sua frente. Atrás da professora há um telão onde são projetados os slides da palestra.
Por Samuel Amaral

Promovendo a Acessibilidade às pessoas com deficiência através das Tecnologias Assistivas foi o tema de uma das palestras ocorridas na manhã de ontem (26) na Feira de Inovação e Tecnologia Expotec. Foi ministrada pela professora Ana Flávia Coutinho, da UFPB.
        A palestrante citou dados do Censo 2010, de que há mais de 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, o que representa 24% da população. Isso significa que “temos um universo de pessoas com deficiência em nossa sociedade e que ela precisa ser inclusiva. A gente precisa pensar iniciativas que envolvam todas as pessoas”, segundo professora Ana Flávia.
        A adequação dos espaços públicos e privados para acolher as pessoas com deficiência é uma dessas iniciativas, afirma a professora. “A pessoa com deficiência não é deficiente, quem é deficiente é o ambiente! O ambiente é que tem que se mudar para que todas as pessoas sejam incluídas”, afirmou.

MODELO SOCIAL
        Segundo a professora Ana Flávia, a visão e a compreensão que a sociedade tinha acerca das pessoas com deficiência foi se modificando no decorrer do tempo, tendo passado por quatro fases distintas: Exclusão, Segregação, Integração e Inclusão.
        Na perspectiva da Exclusão, que perdurou até a década de 1960, “se nascia alguém com alguma deficiência, as pessoas achavam que aquilo era um mau agouro, uma maldição, uma coisa dos deuses... E em algumas culturas se chegava até a matar pessoas que nasciam com alguma deficiência”, afirmou.
        O segundo modelo que marcou a relação entre a sociedade e as pessoas com deficiência, ainda de acordo com a palestrante, foi o da Segregação: as pessoas com deficiência eram apartadas do convívio social e mantidas em escolas especiais, para a sua “inclusão”.
        No modelo da Integração, as pessoas com deficiência “estariam na escola, mas em uma sala especial, separada... Era uma tentativa de se chegar à inclusão”, afirmou.
“A inclusão real, que a gente quer hoje em dia, é que toda pessoa esteja matriculada na escola e numa sala normal, numa sala em que qualquer criança está. Essa é a proposta da inclusão: todas as pessoas convivem, interagem”, completou a palestrante.

EVOLUÇÃO DA TERMINOLOGIA
        A professora prosseguiu afirmando que “o primeiro passo para que a inclusão aconteça é a mudança atitudinal. A gente precisa mudar nossa forma de ver! Muitas vezes a gente usa do preconceito, porque desconhece”.
        O uso inadequado de uma determinada terminologia pode reforçar os preconceitos: “a evolução que houve até se chegar à inclusão, houve também na terminologia. Antes se falava ‘deficiente’, ‘portador de deficiência’, ‘portador de necessidades especiais’... Atualmente a terminologia que se usa é ‘pessoa com deficiência’. Antes de tudo, o ‘deficiente’ é uma pessoa!”, esclareceu a professora.

ACESSIBILIDADE NA INFORMÁTICA
        Hoje em dia, segundo Ana Flávia Coutinho, a “internet oferece um mundo de oportunidades! Um mundo de estudo, de trabalho, de diversão, comunicação! As possibilidades são muito amplas!. E para que a internet seja também um espaço inclusivo, é necessário pensar alternativas para que as pessoas com deficiência possam usufruir das possibilidades da Rede.”
        Para isso é que existem as Tecnologias Assistivas, que “são equipamentos, a nível de hardware, ou programas, a nível de software, que vão permitir quebrar barreiras, tornando o computador mais acessível”, afirmou a palestrante.
        Em entrevista ao blog, a professora Ana Flávia afirmou que alguns desses recursos tecnológicos custam caro, “porque é uma tecnologia que necessita de investimento e é produzida em pequena escala. Mas nós temos, sim, na internet, muitos recursos gratuitos. Com o grande crescimento da tecnologia, as pessoas estão colocando à disposição os programas que desenvolvem. Basta procurar com atenção que a gente pode encontrar na internet diversas possibilidades. Muitos professores têm feito pesquisas nessa área para que a tecnologia se aproxime das pessoas”, afirmou.
        A professora afirma que é preciso “despertar nos jovens a consciência de que eles precisam desenvolver e trabalhar artefatos da tecnologia que tenham acessibilidade, que sejam pensados para todos. Não é porque uma pessoa não tem a visão, a audição, ou tem algum comprometimento motor que ela não possa utilizar o computador: ela pode!”
        Segundo a professora Ana Flávia Coutinho, “o importante é a gente quebrar as barreiras atitudinais, a questão do preconceito. É através de palestras como essa que os jovens vão tendo contato com uma realidade que deveria ser natural e mudando assim a cultura, nossa forma de ver o mundo, de ver as pessoas, de ver que cada um é diferente! E a tecnologia pode promover essa acessibilidade, essa inclusão!”

RELEVÂNCIA DAS DISCUSSÕES

Descrição para cegos: foto mostra, à esquerda, Everton Machado e, à direita, Lenilson Vitório da Silva, segurando sua bengala. Eles estão no salão principal da Expotec, com alguns estandes ao fundo.
        Lenilson Vitório da Silva é deficiente visual e estuda no IFPE (Instituto Federal de Pernambuco), em Igarassu. Ele participou das discussões e classificou a palestra como “enriquecedora”. Para ele, a conferência mostrou “para o público em geral, que não tem ainda conhecimento, o que já existe na acessibilidade, e talvez despertar o interesse nas pessoas em buscar [mais sobre o tema]”.
        Lenilson estava acompanhado de Everton Machado, seu apoiador. Ele afirmou que “a maior parte do que foi abordado [na palestra] eu já tinha vivenciado com Lenilson, inclusive a dificuldade no primeiro acesso [ao computador] no IFPE. Tem muitas pessoas que não têm o conhecimento necessário [sobre tecnologias assitivas]. Com esse tipo de palestra, as pessoas podem adquirir esse conhecimento”.

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