Descrição para cegos: a imagem em preto e branco retrata um menino olhando pela janela, com seu rosto sendo refletido pelo vidro. |
Para a presidenta
da Associação Brasileira de Autismo, Marisa Furia Silva, o autismo
ainda é um assunto pouco abordado, sobretudo no Brasil. O que há
muitas vezes reservado para as pessoas que apresentam os sintomas da
Síndrome de Asperge, conhecidas como autistas, é o julgamento de
boa parte da população, quer seja pela falta de informação ou de
consciência. Por outro lado, mães e pais relatam outro desafio. Na
matéria publicada no site Inclusive.Org, os familiares de pessoas
com essa deficiência apresentam a barreira que é a dificuldade no
tratamento, principalmente após o diagnóstico, mesmo quando este é
precoce. Confira a matéria completa aqui. (Felipe Ramos)
No
Brasil, apenas 10% das pessoas diagnosticadas com autismo são
tratadas
Da Agência
Brasil
Aos 19 anos, Caio
faz cursinho pré-vestibular. Ele quer estudar e ser escritor. A mãe
do rapaz, Inês de Souza Dias, elogia as habilidades do filho, mas
não esconde a existência dos traços deixados pela síndrome de
Asperger, tipo de autismo diagnosticado quando ele era ainda pequeno.
Dificuldade de entendimento e de aceitação das regras sociais e
falta de interesse por assuntos do dia a dia são alguns deles.
“Caio tem
interesses muito focados. Gosta de jogos e só quer falar sobre isso.
Apesar de ser muito inteligente, não se interessa por assuntos
cotidianos. Isso dificulta, por exemplo, o trabalho na escola. É uma
batalha para conseguir que ele aprenda outras coisas”, conta. “Ele
tem também um déficit de atenção bem acentuado. Para o Caio, é
difícil permanecer na mesma tarefa por muito tempo”, completou.
Segundo Inês,
características do filho consideradas estranhas por muitos, como
andar para lá e para cá e a conversa com ele mesmo, ajudaram a
definir o futuro do rapaz. “Numa certa idade, ele andava de um lado
para o outro e falava alto. Parecia que estava contando histórias.
Perguntei o que ele estava fazendo e ele disse que estava brincando
com a imaginação e contando uma história para ele mesmo. Perguntei
se gostaria de transformá-la em um livro. E foi o que fizemos.”
Caio frequentou a
escola com crianças sem o transtorno e recebe, até hoje,
acompanhamento especial. Mas a estimativa da Associação de Amigos
do Autista (Ama) é que, das cerca de um milhão de pessoas no país
diagnosticadas com autismo, apenas 100 mil recebam algum tipo de
atendimento. No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a
instituição cobra uma discussão mais ampla sobre o assunto.
“O diagnóstico
é a parte do problema que mais ganha com a data. Os pediatras acabam
percebendo e se interessando pela causa. É o ponto mais favorecido.
O grande problema é que, feito o diagnóstico, a família fica sem
saber para onde ir”, explicou a superintendente e cofundadora da
Ama, Ana Maria de Mello.
Mãe de um rapaz
autista de 34 anos, ela lembra que, na época em que recebeu o
diagnóstico, não havia tratamento disponível. O processo, segundo
ela, é complicado, uma vez que envolve diversos profissionais de
áreas distintas. “Estamos falando do espectro do autismo. Temos
desde casos de extrema gravidade até casos de pessoas com
inteligência normal, mas que também precisam de alguém que entenda
o que está fazendo. Os casos mais leves não são tão simples.”
Para a presidenta
da Associação Brasileira de Autismo, Marisa Furia Silva, o autismo
ainda é um assunto pouco abordado, sobretudo no Brasil. Mãe de um
rapaz de 36 anos com a síndrome, ela lembra que, depois do
diagnóstico, houve pouca informação sobre como lidar com o filho.
“Não tínhamos internet nem literatura sobre o assunto. Era uma
época difícil. Não se sabia o que fazer.”
Marisa também
acredita que a maior parte das pessoas diagnosticadas com autismo no
país está sem atendimento. Segundo ela, o avanço no diagnóstico
precoce não basta. É preciso ampliar a rede de apoio e de
atendimento à criança e à família.
“A gente tem que
pensar que é para a vida toda. Temos muitos adultos comprometidos
hoje e a esperança é que, no futuro, isso não aconteça. O
prognóstico de uma criança é muito melhor”, destacou. “Estamos
em um momento em que já se tem documentos e parâmetros para o
diagnóstico. Agora, temos que ter tratamento”, destacou.
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