sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Site descreve conteúdo audiovisual para deficientes

Descrição para cegos: a imagem mostra a logomarca do "Legenda Sonora", nome que está em destaque, em letras amarelas. Abaixo, em menor tamanho, lê-se "Entretenimento Audiodescrito", com letras na cor cinza. 

O Legenda Sonora é um projeto que contribui com a inclusão das pessoas com deficiência no meio virtual. O site oferece aos deficientes visuais, cegos ou com baixa visão, a audiodescrição de vídeos disponibilizados online. De filmes clássicos, como Forrest Gump e Star Wars, a comerciais do YouTube, os conteúdos são organizados em sete categorias: animação, ativismo, curtas, filmes, humor, séries e informativo. No final de 2014, o Legenda Sonora recebeu o prêmio Brasil Criativo na categoria Cinema e Vídeo e foi o 3º no Prêmio Nacional de Acessibilidade na Web. Em entrevista ao QSocial, o idealizador do projeto, o ex-ator de teatro Diego Oliveira, revelou que o segredo para uma boa audiodescrição está na humanização do processo, que une técnica e emoção na medida certa. Confira a matéria completa (Fernanda Mendonça):




Era o último dia da Campus Party. Cega, Sarah Marques foi convidada por um grupo para ir ao cinema assistir a Star Wars. “Achei que não ia curtir muito, mas, para minha surpresa, o cara que sentou ao meu lado começou a me descrever o filme e ler todas as legendas”, conta. “De uma forma objetiva, informativa, criativa e sincronizada, eu consegui assistir e entender o filme do começo ao fim.”


O cara em questão é Diego Oliveira, 25 anos, ex-ator de teatro e apaixonado por cinema. Ele nunca tinha tido contato com audiodescrição ou com pessoas com deficiência visual, mas, depois dessa experiência, começou a pesquisar sobre o tema, fez um curso e começou a trabalhar na ideia do Legenda Sonora. O site, que começou com filmes antigos, agora foca no YouTube, com uma média de três novas audiodescrições por semana e 1.000 acessos mensais.

“Nossa sociedade tem acesso a conteúdo audiovisual muito fácil, a um clique de distância, enquanto quem tem deficiência visual sempre fica condicionado a cinemas adaptados, em ocasiões especiais, com filmes predeterminados ou horários específicos na TV”, diz Diego. “Eu quero que eles tenham acesso ao mesmo conteúdo que nós temos e com a mesma independência, a um clique também.”

O segredo de uma boa audiodescrição, afirma, está na humanização do processo. “Identificar e trabalhar com o público-alvo de cada conteúdo, seja infantil, terror ou uma boa zoeira, por exemplo”, explica. “Existem algumas regras, mas não temo quebrá-las. Tem cenas que podem passar muito mais informação para o público se forem audiodescritas com diferentes entonações e emoção na medida certa. Leitores de tela já são robotizados, não acho que audiodescrição precisa seguir o mesmo caminho.”

Os cegos, avalia, são excluídos da cultura. “Levou mais de dez anos para a lei de audiodescrição na TV ser aprovada, com duas horas de conteúdo por semana em cada canal. O tempo está aumentando [hoje são 4h/semana], mas só porque uma lei obriga. São poucos os que trazem acessibilidade espontaneamente. Colocar audiodescrição na internet pode levar essa conscientização a um novo patamar”, acredita.

Em exibições de filmes legendados, geralmente há mais de um profissional na audiodescrição, sendo uma voz para a leitura da legenda e outra para a audiodescrição em si. Como Diego trabalha sozinho no Legenda Sonora, o estéreo foi o caminho para melhorar a compreensão. E por isso ele recomenda assistir com fones de ouvido.

No site, o único filme não disponível na versão dublada é “Forest Gump”. “Star Wars” só está na versão dublada, e “Rocky” e “007”, tanto dubladas quanto legendadas.

Quando era apenas um protótipo, o Legenda Sonora ganhou o Talent Show, prêmio no festival youPIX. Atualmente, o site está participando do Social Good Brasil Lab, laboratório para projetos sociais envolvendo tecnologia. “Porém, até o momento, o processo todo é voluntário e não remunerado. Não acho que o público com deficiência visual deva pagar por um conteúdo que é distribuído gratuitamente no YouTube”, diz. “Essa preocupação deveria vir de quem faz os vídeos, pensar em tê-los acessíveis para todos, sem exceção.”

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