Descrição para cegos: a imagem mostra a mão de uma pessoa lendo uma página escrita no Sistema Braille. |
O artigo “A Educação
Inclusiva é Transversal?” de autoria da pedagoga Luciene Molina, instiga o
leitor a se perguntar se a educação é inclusiva e igualitária. Luciene nasceu
com baixa visão e ficou totalmente cega aos 17 anos. Ela é professora da
Universidade do Vale do Paraíba (Univap), em São José dos Campos – SP, e é
reconhecida pelas contribuições para o avanço do Ensino a Distância (EaD) para
pessoas com deficiência visual no Brasil. Confira o artigo abaixo. (Mabel
Abreu)
A Educação Inclusiva é Transversal?
Será que
a educação inclusiva cabe dentro do conceito de transversalidade do ensino?
A
educação inclusiva deve ser efetivada com a prática do respeito à diversidade e
da tolerância, o reconhecimento de valores e o domínio de habilidades
necessárias ao convívio e interação social. A educação inclusiva ultrapassa o
mero caráter técnico e disciplinar, porque seu sentido supõe que corte
transversalmente uma única disciplina, estando dentro de cada uma delas.
Embora
transversal, ou seja, ultrapassando os limites de cada disciplina, a educação
inclusiva não precisa cobrar que todos os professores sejam generalistas, mas
que o conhecimento acumulado pelo especialista em cada deficiência possa
refletir nessas diversas disciplinas, sem deixar nas mãos desse professor
especialista a única tarefa de educar os alunos com deficiência.
Isso
significa que o conceito da educação inclusiva não pode continuar sendo de
domínio exclusivo de uma única disciplina ou responsabilidade de um único
técnico. Para que seja, de fato inclusiva, necessita haver uma ruptura do
conceito de "complementar" ao ensino regular. O que vemos hoje dentro
das escolas são metodologias focadas em complementar aquilo que o aluno com
deficiência não consegue atingir dentro do ensino regular e que, por isso,
frequentam salas de recursos no contra turno. Enquanto a ideia tiver como foco
central estratégias complementares, estaremos assumindo que a educação regular
não dá conta da diversidade, porque aquilo que precisa ser complementado supõe
que não está suficientemente bom, nem atendendo ao que se propõe.
O caráter
transversal da educação inclusiva está justamente no fato do aluno não
sentir-se isolado dentro do seu espaço, que ele seja aluno sem adjetivos ou
rótulos e que mostre-se capaz de enfrentar os desafios escolares. A
transversalidade da educação inclusiva coloca o aluno e o professor como
protagonistas de uma história de sucesso e não apenas o professor especialista
como o único responsável pelo desenvolvimento do aluno com deficiência. Muitas
vezes, o complementar rotula muito mais do que promove autonomia, julga mais a
ineficiência do que permite enxergar os alcances e isola mais do que inclui.
A
transversalidade da educação inclusiva não cria dependência de um serviço que
sempre vai complementar a ineficiência do outro, não cria obrigatoriedade com
base na deficiência e não segrega em função de uma "incapacidade"
aparente, embora não seja função da sala de recursos compensar aquilo que não é
possível desenvolver junto com os demais. Ora, não cabe à educação inclusiva
nivelar o desenvolvimento de um aluno, moldá-lo mediante uma prontidão análoga
ao princípio de que se um aluno tem uma deficiência ele precisa atingir um
desenvolvimento equivalente ou igual ao de qualquer aluno, ignorando a
diversidade e, por isso, sempre vai existir algo a ser complementado aos olhos
de quem não enxerga a tênue linha que ultrapassa toda e qualquer disciplina
transversalmente.
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