Refletir
sobre o papel
da mídia na construção de uma consciência mais bem formada sobre
os direitos da pessoa com deficiência é fundamental. O jornalismo
tem um papel de grande importância na valorização do ser humano e
isto fica claro no modo como se conta uma história, em uma
reportagem, por exemplo. Neste texto publicado no site Observatórioda Imprensa a
reflexão nos leva a pensar sobre a aura de coitado muitas vezes
colocada nos personagens de matérias com deficientes e no papel do
jornalista de levar à sociedade conceitos de cidadania. Confira aqui
a matéria completa. (Felipe Ramos)
A
mídia e a pessoa com deficiência
Por
Luis Daniel da Silva
A presença de
pessoas com deficiência na mídia tem se tornado constante. Não há
como negar que personagens de ficção tiveram seu papel importante
para o tema se evidenciar. Isso também fez aumentar sensivelmente a
quantidade de reportagens sobre o assunto nos jornais, rádios, TVs e
internet. Calçadas esburacadas, falta de rampas, ônibus adaptados,
qualificação profissional e lei de cotas para o mercado de trabalho
são apenas alguns dos temas recorrentes. Entretanto, há aspectos
que precisam ser observados nas redações quando vai se tratar do
assunto.
Anos atrás, as
pessoas com deficiência se evidenciavam por seus próprios méritos
por conseguirem chegar à escola, conquistar um emprego e assim, se
transformarem em grandes personagens de superação de seus limites.
Atualmente, essa visão se modificou e é necessário que os meios de
comunicação também reflitam essa mudança. Aquela aura de coitado
das imagens de TV ou dos textos de jornais precisa ser extirpada.
Como jornalista, compreendo que pode ser difícil no começo, mas não
impossível.
Uma das mudanças
mais consideráveis neste sentido é sobre como se referir a quem tem
deficiência. Bem antigamente, era muito comum se ouvir expressões
como "aleijado", "excepcional", "mongoloide"
entre outros. O tempo passou e elas foram praticamente abolidas do
vocabulário. Então, surgiram outras denominações para sutilmente
substituí-las, como "pessoas portadoras de deficiência",
"portadores de necessidades especiais", "deficiente"
e outras denominações deste gênero. Entretanto, elas também já
não são mais bem aceitas, pois evidenciam a "deficiência".
Além de não fazerem sentido algum, como por exemplo, a palavra
"portadores". Quem porta algo pode, a qualquer tempo, não
portar mais, e com a deficiência isso não acontece. Outro exemplo é
"necessidades especiais". Um termo que surgiu para
denominar quem tinha uma necessidade educacional especial que, com o
tempo, passou a representar toda a gama de pessoas com deficiência –
física, visual, auditiva ou intelectual.
Papel da mídia
é fundamental
Cada ser humano é
único e cada um tem sua "necessidade especial" no dia a
dia. Um pouco menos ou mais de açúcar, ter um carinho do namorado
ou da namorada, entre outras necessidades que fazem a nossa vida ser
única. Além dessas justificativas, essas expressões se tornaram
carregadas de conotações pejorativas e preconceituosas.
Os movimentos
mundiais das pessoas com deficiência, inclusive os do Brasil,
assinaram a Convenção Internacional para Proteção e Promoção
dos Direitos e Dignidades das Pessoas com Deficiência, aprovada pela
Assembleia-Geral da ONU em 2006, e ratificada no Brasil em julho de
2008. Entre vários outros aspectos, de que forma preferem ser
chamados: Pessoa com Deficiência. O objetivo é valorizar o ser
humano, e não sua condição permanente ou passageira, e isso
precisa ser levado em consideração quando se vai contar uma
história na reportagem, pois ajuda a levar para a sociedade estes
mesmos conceitos.
Colocar alguém
com deficiência como entrevistado é mais do que necessário, mas a
condição dele não pode transformá-lo num herói, quando ele é
apenas um ser humano com seus direitos e deveres como qualquer outro
cidadão. O bom-senso é um excelente caminho nesses momentos.
Ponderar o motivo daquela pessoa com deficiência estar presente na
reportagem e o que realmente é relevante, sem colocá-la em
situações constrangedoras.
Entendo
que ainda falta muito para que este segmento tenha as mesmas
conquistas de outros movimentos sociais, porém, para se chegar lá,
a mídia tem papel fundamental.
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